A conduta terapêutica do cirurgião dentista diante do distúrbio respiratório no paciente infantil não é um consenso na prática clínica. Ao ler a edição de setembro (2022) do American Journal of Orthodontics um artigo intitulado “Protocolo de tratamento craniofacial para paciente infantil com apneia obstrutiva do sono e maloclusão esquelética de Classe III: acompanhamento de 13 anos” me chamou a atenção. O que me chamou atenção neste artigo não foi o tratamento da Classe III propriamente dito, mas o fluxograma sugerido pelos autores para a conduta terapêutica do cirurgião dentista diante do distúrbio respiratório no paciente infantil. E por isso trouxe esse tema para o blog de hoje!

Características dos distúrbios respiratórios na infância

A importância do diagnóstico precoce de distúrbios respiratórios na infância

Conduta terapêutica do cirurgião dentista diante do distúrbio respiratório na infância

Características dos distúrbios respiratórios na infância

Recentemente tenho visto e lido muito sobre a associação entre apneia obstrutiva do sono e o tratamento ortopédico de maneira geral. Tem se associado frequentemente a expansão rápida da maxila ao tratamento de distúrbios respiratórios.  E por mais que essa associação realmente exista, a expansão rápida não é a única conduta terapêutica associada a distúrbios do sono, assim como sua indicação só existirá na presença de outras características esqueléticas, ou seja, na presença da deformidade esquelética transversal. E isso me leva a seguinte pergunta, será que realmente sabemos identificar os distúrbios do sono na infância? Questionamos na anamnese os sinais e sintomas devidamente associados?

Podemos dizer que os distúrbios respiratórios seguem uma ordem de gravidade, onde o ronco é considerado o distúrbio de menor impacto para o paciente, enquanto que a apneia obstrutiva do sono é considerada o distúrbio de maior complexidade com grande impacto na qualidade de vida. No blog da Academia da Odontologia tem um post falando um pouquinho mais sobre as características fundamentais para o diagnóstico da apnéia…vale a pena conferir quem quiser saber um pouco mais.

O que eu quero reforçar aqui no post de hoje são os sinais e sintomas que podem estar associados à apneia obstrutiva do sono, e que portanto, devem ser questionados pelo cirurgião dentista na anamnese.

Entre os sinais e sintomas diurnos da apneia em pacientes infantis podemos citar: 

• respiração bucal, 
• baixo rendimento escolar, 
• déficit de atenção, 
• hiperatividade,
• depressão. 

Enquanto que entre os sinais e sintomas noturnos da apneia podemos citar:

• ronco, 
• “baba”no travesseiro,
• posição de dormir não usual,
• enurese (“xixi na cama”).

Não quer dizer que iremos questionar todos esses aspectos na nossa anamnese, porém cabe ao cirurgião dentista ficar atento às características associadas ao distúrbios do sono para assim definir a conduta terapêutica mais adequada.

A importância do diagnóstico precoce de distúrbios respiratórios na infância

E afinal, por que devemos nos preocupar com os distúrbios de sono se muitas vezes nós nem iremos tratar esses pacientes? Bom, claro que pelo fato da respiração estar associada a muitos problemas esqueléticos na face de competência do cirurgião dentista. Mas além disso, pelo grande impacto que os distúrbios respiratórios apresentam na qualidade de vida de pacientes infantis e o quanto podemos interferir significativamente diagnosticando, intervindo ou simplesmente encaminhando.

Conduta terapêutica do cirurgião dentista diante do distúrbio respiratório na infância

Mas agora vamos conversar do conteúdo desse post…um grupo de pesquisadores sul coreanos publicaram em setembro de 2022 no American Journal of Orthodontics em artigo intitulado: “Protocolo de tratamento craniofacial para paciente infantil com apneia obstrutiva do sono a maloclusão esquelética de Classe II: acompanhamento de 13 anos”. Como mencionei anteriormente, o que me chamou a atenção neste artigo não foi o tratamento da Classe III propriamente dito, mas sim o “flowchart” para a conduta terapêutica do ortodontista para pacientes com distúrbios respiratórios do sono. Logo abaixo coloque um diagrama baseado no diagrama publicado po  Kim et al no AJODO em set. de 2022.

O que quero chamar a atenção para este diagrama é que nem todo tratamento ortopédico para distúrbios respiratórios estará associado à expansão rápida da maxila. Recentemente tem se falado muito sobre os benefícios da expansão rápida da maxila e a desobstrução da via aérea e o fato é que pouco tem se falado sobre o diagnóstico do problema esquelético em si. Qual a origem deformidade esquelética associada ao distúrbio respiratório do sono? Essa é a principal pergunta que devemos nos preocupar em responder.

Na verdade, o diagnóstico será baseado em um primeiro momento na presença ou ausência da obstrução anatômica da via aérea em si. Nas imagens abaixo é possível ver através da telerradiografia em norma lateral a presença ou não da obstrução da via aérea superior. Sendo que diante da obstrução anatômica nossa conduta como profissionais deve ser o encaminhamento para médico do sono ou otorrino pediátrico, independente da necessidade de expansão maxilar ou protração.

Outro ponto importante é reforçar que o uso de aparelhos ortopédicos funcionais para avanço mandibular ou mesmo controle vertical da face também são alternativas de tratamento adequadas, a grande questão é definir corretamente o diagnóstico.

Enfim, espero que este fluxograma te ajude na prática clínica e reforce a importância do encaminhamento para equipe multidisciplinar, assim como a reforce a importância de olhar para a conduta terapêutica dos distúrbios respiratórios do sono além da expansão rápida da maxila.

Bons estudos!